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III - Dor

Icaro foi guiado por Davi até a cozinha, onde sua irmã estava sentada à mesa, retirando o colar e o guardando no bolso de sua calça jeans, e sua mãe trazia uma grande jarra de suco para a mesa. - Poxa garoto, ate que enfim! Lava as mãos ali na pia e vem almoçar. - Disse Vanessa. - Ta bem, mãe... O rapaz foi até a pia, onde Carina desamarrava o avental e repuxava a barra de seu vestido branco com estampa de flores, que ficara amassada por causa do avental. Davi sentou-se ao lado de Laura, que imediatamente começou a perguntar sobre cavalos. Vanessa e Carina sentaram nas pontas da mesa retangular, restando para Icaro o lugar no meio, de frente para sua irmã e o Davi.  - Carina, e como está o sítio? - Perguntou Vanessa, enquanto se servia de suco. - Esta bem. Tivemos algumas dificuldades recentemente, mas acredito que a safra de cajus desse ano será muito boa. - Respondeu Carina, com um leve sorriso no rosto. - E também, o Davi tem me ajudado bastante desde que começou a trabalhar treinan
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II - Reflexo

Icaro despertou com batidas na porta, seguidas pela voz da sua mãe que viera avisar que o almoço estava pronto. Percebeu então que havia cochilado, principalmente porque não havia desfeito sua bagagem. Levantou da cama, e foi em direção a janela do quarto, de onde sentia o vento morno daquele início de tarde acariciar seu rosto enquanto balançava os galhos do cajueiro que estava ao lado da janela, no quintal da casa. Virou-se para ir em direção a porta do quarto e sair, e só então notou o espelho que estava na parede atrás dele. Deu alguns passos, atento a imagem que o observava através do reflexo. Fitou com atenção aquele rapaz alto e magro, que usava botas e calça jeans. Usava também uma regata preta com os dizeres "No Future" e a imagem de um olho em branco-e-preto ao fundo. O rosto era claro, com pelos de barba surgindo aos poucos, e dois piercings na orelha direita. Mas o que mais lhe chamou a atenção foram os olhos, de um tom de verde muito intenso e bonito, mas que est

I - Chegada

Sentia o vento morno da manhã afagar seus cabelos enquanto cavalgava pelo extenso campo de grama alta e árvores dispersas, com o coração quase tão acelerado quanto o do cavalo que o levava veloz através do campo. Em sua vistoria rotineira pelo terreno de sua família, acabara perdendo a noção do tempo, e agora corria, alimentando a esperança de conseguir ver a chegada daquela pessoa. A última vez que se sentiu tão empolgado fora a dois anos, quando viu aqueles olhos verdes pela ultima vez. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Despertou ao sentir que o carro parara de se mover. Abriu os olhos, protegidos pelos óculos escuros de estilo aviador, e viu ao seu lado sua irmã falar, com um largo sorriso no rosto. Entretanto nada entendia, e nem fazia muita questão de entender, enquanto o único som que chegava a seus ouvidos eram as músicas do novo álbum de uma de suas bandas de metal favoritas. Olhou para o banco da frente, e viu sua mãe encara-lo com uma expressão séria enquanto m

3° Capítulo - A chuva que mudou tudo

O Colégio Luz da Alvorada era uma das poucas escolas que existiam naquela cidade de interior, e era a mais bem recomendada de todas. Apesar de ser pública, era preciso fazer uma prova para poder ser admitido como um aluno dela. A instituição tinha dois andares, um ginásio e um pátio gramado e com árvores frutíferas que ficava no centro da escola, o que ajudava a manter o local arejado e refrigerado, mesmo nos dias mais quentes. O cheiro de alguma fruta sempre impregnava os corredores do lugar, pois as árvores do pátio tinham safras em diferentes épocas do ano, e os alunos da escola sempre comiam as frutas de lá quando se esqueciam de levar lanche para a aula. Na frente da escola, ao lado do portão principal erguia-se uma torre com um grande relógio em cada uma das quatro paredes, e dentro dela um grande sino tocava quatro vezes ao dia: as seis da manhã, ao meio-dia, as seis da tarde e a meia-noite. Naquele fim de tarde uma garota andava solitária pelos corredores da escola vazia. Por s

2° Capítulo - Uma tempestade no almoço

Quando se assume o compromisso ser responsável por uma criança, espera-se ser capazes de proteger e cuidar dessa criança da melhor maneira possível. Alguns acabam sendo relapsos com esse compromisso, e alguns sequer chegam a enxergar o tamanho da responsabilidade que tem em mãos. E alguns tentam desempenhar essa tarefa de uma maneira tão determinada que acabam não vendo quando deixam de cuidar, e começam a machucar.           Brendan chegou a cozinha, e só então se deu conta que ainda estava usando as mesmas roupas desde o dia anterior. Uma calça jeans escura, uma camisa cinza com uma linha preta na horizontal e uma na vertical que se cruzavam sobre seu peito direito, e um par de botas pretas simples, um presente de seu pai. O rapaz sentou-se a mesa, na cozinha e sala de jantar. A mesa era circular, e haviam três cadeiras  em volta dela, uma agora ocupada por Brendan, outra por John, que segurava um talher em cada mão e os batia na mesa, como uma criança clamando por comida, e outra ca

1º Capítulo - Uma manhã sem sol

Existem muitas estradas que saem das grandes cidades e levam a outras cidades menores. Cidades essas que passam despercebidas quando se está muito ocupado, distraído, animado, empolgado ou triste demais para perceber o mundo ao seu redor. Passando por uma dessas estradas existe um ônibus intermunicipal cinza, não muito diferente dos outros ônibus da mesma empresa, a não ser pelos bancos com cheiro de poeira e mofo. Dentro dele, o motorista e o cobrador conversam sobre suas esposas e o que elas devem ter preparado para o almoço, ansiosos para chegar a sua última parada antes de seu expediente acabar. O ônibus deverá chegar em menos de trinta minutos, e então descerão os últimos dois passageiros: uma garota de cabelos azuis picotados na altura do pescoço e olhos castanhos, que está sentada no fundo do veículo ouvindo rock com seus fones de ouvido e balançando a cabeça como se estivesse no show daquela banda, e um rapaz de cabelos castanho intenso ondulados a altura do queixo e olhos cor-

6. Encontro

Estava deitado, com o queixo apoiado no travesseiro, e os braços projetados para a frente. Entre suas mãos, o celular, exibindo a última mensagem da conversa com o misterioso Serpente Marinha. Segundo ele, havia discutido com sua família. Zack entendia bem como desavenças familiares podiam machucar. Por isso chamou seu correspondente para sair. Mas não pode evitar de se sentir desconfortável com toda aquela situação. Virou-se, passando a encarar o teto do quarto, azul escuro com respingos brancos e amarelos, que tentavam simular um céu estrelado. Sentiu o vento entrar pela janela aberta, e percorrer todo o seu corpo nu, fazendo sua pele arrepiar ligeiramente. Se questionou se valeria mesmo a pena "entrar nos problemas de outra pessoa". Porém estava curioso para saber a verdadeira identidade daquele misterioso que se autonomeara "Serpente Marinha". E sabia que, se o resultando fosse desinteressante, ou fosse lhe trazer algum tipo de problema, poderia apenas se desped